22 de abril de 1945. O céu amanheceu
encoberto na base brasileira em Pisa, na Itália. A aparente calmaria na
pista de decolagem escondia o intenso movimento do 1° Grupo de Aviação
de Caça nos últimos dias. Sob o comando do major Nero Moura, os pilotos
se preparavam para mais um dia de combate, sendo que aquele dia ficaria
especialmente marcado para sempre com o maior número de surtidas diárias
e os melhores resultados obtidos.
Passava das 8 horas, quando o ronco do
primeiro P-47 ecoou pela pista de decolagem de Pisa. Em terra, o ritmo
de preparação continuava acelerado para dar conta das demais missões
planejadas para aquele dia. Contrapondo-se à frenética rotina, pairava
um clima de preocupação evidente, pois as estatísticas em combate
indicavam pelo menos três aeronaves abatidas por mês. Pouco antes do
meio-dia, começavam a voltar as primeiras esquadrilhas, sem nenhuma
baixa.
1945, batismo de fogo na Itália do 1ºGAvCa durante a II Guerra Mundial. (Imagem: Arquivo Histórico da FAB) |
Em todas as saídas, os pilotos
despejavam suas bombas em pontos estratégicos e passavam a procurar
alvos de oportunidade, como colunas de tanques e transportes de
suprimentos.
A última missão do dia foi a mais
dramática. Das quatro aeronaves, três retornaram. Ao mergulhar sobre um
alvo, seguindo seu líder, um dos pilotos foi atingido e teve que saltar
de paraquedas, ficando desaparecido até o final da guerra.
Essas emoções incomparáveis foram
vividas por jovens pilotos brasileiros, heróis que honraram o nome do
Brasil e da então jovem Força Aérea Brasileira.
Após o fim da guerra e retorno para
casa, o desafio passou a ser a implantação e o desenvolvimento da
Aviação de Caça no Brasil, que foi cumprido com a mesma determinação dos
dias de conflito.
1953, Gloster Meteor,o primeiro caça a jato da FAB (Imagem: Arquivo Histórico FAB) |
O tempo passou e o Trator Voador, que
tanto tiro levou e que muita bomba despejou contra as forças oponentes
nos céus italianos, já não acompanhava a evolução tecnológica vivida no
mundo inteiro.
A máquina mudou. Os valores não. Deste
então já foram formados mais de 1.600 novos caçadores. Todos herdaram a
vibração, o profissionalismo, a coragem e a paixão pelo desafio e pela
Aviação de Caça.
Hoje, os jovens caçadores recém-formados
na Academia da Força Aérea têm seu batismo inicial na aeronave A-29
Super Tucano, aprendendo a empregá-la como plataforma d´armas, no
cumprimento das mais diversas ações de Força Aérea.
1973, Mirage III, a FAB entra na era supersônica. (Imagem: Arquivo Histórico FAB) |
Após adquirir a experiência necessária
são selecionados para voar a primeira linha da Aviação de Combate, desta
feita no comando de máquinas velozes e com tecnologia embarcada de
última geração, as quais, em caso de ameaça externa à soberania e à
independência nacionais, serão as primeiras a cruzarem as linhas
inimigas e enfrentarem qualquer tipo de desafio para garantir a paz às
famílias brasileiras.
Refiro-me às aeronaves A-1M, capazes de
conduzir grande quantidade de armamento e adentrar em profundidade no
território inimigo para atingir os objetivos estratégicos com precisão.
Do mesmo modo, ressalto a capacidade das
aeronaves F-5M, equipadas com mísseis de longo alcance utilizados em
Combates Além do Alcance Visual, responsáveis por garantir soberania do
espaço aéreo brasileiro, impedindo que vetores hostis invadam as nossas
fronteiras territoriais.
2016, F-5M, espinha dorsal da aviação de caça da FAB (Imagem: Agência Força Aérea) |
Como parte indispensável do seu
constante processo de renovação e aperfeiçoamento tecnológico,
aguarda-se a chegada das aeronaves Gripen NG, que, por sua
característica multimissão, serão capazes de elevar o Brasil a um
patamar mais alto de poderio militar, mantendo a sua singular
importância no cenário da América do Sul e também no mundo.
A evolução continuada da Aviação de Caça
tem permitido a a produção de doutrinas mais eficientes e criado uma
espiral operacional de conhecimento e de capacidades que impulsionam
cada militar para a profissionalização da Força, dando continuidade ao
que foi ensinado por aqueles jovens combatentes nos céus da Itália.
Hoje, vivemos um estimulante desafio com
a implantação da “Força Aérea 100”, cuja premissa básica aponta para
uma organização mais ágil e mais eficiente, tanto no planejamento quanto
na execução das suas atividades, adequando-se às prováveis limitações
de recursos e às incertezas do ambiente externo, sem perder qualidade no
cumprimento de sua missão constitucional.
E entre todos os benefícios, o avanço da
fronteira tecnológica será o diferencial da FAB no futuro, em
cooperação com as demais Forças Armadas Brasileiras, para que a
capacidade operacional seja incrementada ao máximo.
Em 2041, no seu centenário, a Força
Aérea terá muito o que comemorar, operacional e administrativamente. E
nada seria possível se não fosse a determinação, o profissionalismo e a
coragem de cada militar para enfrentar os novos desafios que se
descortinam. Tais características, tão peculiares aos pilotos de caça,
foram herdadas dos heróis brasileiros da campanha na Itália e sempre
serão a base dos valores dessa gloriosa aviação.
2019, F-39 (Gripen NG), o futuro caça da Força Aérea Brasileira. (Imagem: Agência Força Aérea) |
As experiências do 1º Grupo de Aviação de Caça, originadas em tempo de
guerra e transmitidas por gerações de pilotos, influenciaram
significativamente as formulações doutrinárias ora praticadas. O alto
padrão de eficiência e eficácia, mantidos todos esses anos, demonstram
que em cada componente desta aviação ainda vive o espírito heroico dos
seus antecessores. Pioneiros que viveram intensas emoções e que fizeram a
diferença no marcante dia 22 de abril de 1945.
Fonte: http://tecnodefesa.com.br/
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