quarta-feira, 27 de abril de 2016

Aviação de Caça Brasileira



 22 de abril de 1945. O céu amanheceu encoberto na base brasileira em Pisa, na Itália. A aparente calmaria na pista de decolagem escondia o intenso movimento do 1° Grupo de Aviação de Caça nos últimos dias. Sob o comando do major Nero Moura, os pilotos se preparavam para mais um dia de combate, sendo que aquele dia ficaria especialmente marcado para sempre com o maior número de surtidas diárias e os melhores resultados obtidos.

 Passava das 8 horas, quando o ronco do primeiro P-47 ecoou pela pista de decolagem de Pisa. Em terra, o ritmo de preparação continuava acelerado para dar conta das demais missões planejadas para aquele dia. Contrapondo-se à frenética rotina, pairava um clima de preocupação evidente, pois as estatísticas em combate indicavam pelo menos três aeronaves abatidas por mês. Pouco antes do meio-dia, começavam a voltar as primeiras esquadrilhas, sem nenhuma baixa.

1945, batismo de fogo na Itália do 1ºGAvCa durante a II Guerra Mundial. (Imagem: Arquivo Histórico da FAB)

Em todas as saídas, os pilotos despejavam suas bombas em pontos estratégicos e passavam a procurar alvos de oportunidade, como colunas de tanques e transportes de suprimentos.

A última missão do dia foi a mais dramática. Das quatro aeronaves, três retornaram. Ao mergulhar sobre um alvo, seguindo seu líder, um dos pilotos foi atingido e teve que saltar de paraquedas, ficando desaparecido até o final da guerra.

Essas emoções incomparáveis foram vividas por jovens pilotos brasileiros, heróis que honraram o nome do Brasil e da então jovem Força Aérea Brasileira.

Após o fim da guerra e retorno para casa, o desafio passou a ser a implantação e o desenvolvimento da Aviação de Caça no Brasil, que foi cumprido com a mesma determinação dos dias de conflito.

1953, Gloster Meteor,o primeiro caça a jato da FAB (Imagem: Arquivo Histórico FAB)
O tempo passou e o Trator Voador, que tanto tiro levou e que muita bomba despejou contra as forças oponentes nos céus italianos, já não acompanhava a evolução tecnológica vivida no mundo inteiro.

A máquina mudou. Os valores não. Deste então já foram formados mais de 1.600 novos caçadores. Todos herdaram a vibração, o profissionalismo, a coragem e a paixão pelo desafio e pela Aviação de Caça.

Hoje, os jovens caçadores recém-formados na Academia da Força Aérea têm seu batismo inicial na aeronave A-29 Super Tucano, aprendendo a empregá-la como plataforma d´armas, no cumprimento das mais diversas ações de Força Aérea.

1973, Mirage III, a FAB entra na era supersônica. (Imagem: Arquivo Histórico FAB)
Após adquirir a experiência necessária são selecionados para voar a primeira linha da Aviação de Combate, desta feita no comando de máquinas velozes e com tecnologia embarcada de última geração, as quais, em caso de ameaça externa à soberania e à independência nacionais, serão as primeiras a cruzarem as linhas inimigas e enfrentarem qualquer tipo de desafio para garantir a paz às famílias brasileiras.

Refiro-me às aeronaves A-1M, capazes de conduzir grande quantidade de armamento e adentrar em profundidade no território inimigo para atingir os objetivos estratégicos com precisão.

Do mesmo modo, ressalto a capacidade das aeronaves F-5M, equipadas com mísseis de longo alcance utilizados em Combates Além do Alcance Visual, responsáveis por garantir soberania do espaço aéreo brasileiro, impedindo que vetores hostis invadam as nossas fronteiras territoriais.

2016, F-5M, espinha dorsal da aviação de caça da FAB (Imagem: Agência Força Aérea)
Como parte indispensável do seu constante processo de renovação e aperfeiçoamento tecnológico, aguarda-se a chegada das aeronaves Gripen NG, que, por sua característica multimissão, serão capazes de elevar o Brasil a um patamar mais alto de poderio militar, mantendo a sua singular importância no cenário da América do Sul e também no mundo.

A evolução continuada da Aviação de Caça tem permitido a a produção de doutrinas mais eficientes e criado uma espiral operacional de conhecimento e de capacidades que impulsionam cada militar para a profissionalização da Força, dando continuidade ao que foi ensinado por aqueles jovens combatentes nos céus da Itália.

Hoje, vivemos um estimulante desafio com a implantação da “Força Aérea 100”, cuja premissa básica aponta para uma organização mais ágil e mais eficiente, tanto no planejamento quanto na execução das suas atividades, adequando-se às prováveis limitações de recursos e às incertezas do ambiente externo, sem perder qualidade no cumprimento de sua missão constitucional.

E entre todos os benefícios, o avanço da fronteira tecnológica será o diferencial da FAB no futuro, em cooperação com as demais Forças Armadas Brasileiras, para que a capacidade operacional seja incrementada ao máximo.

Em 2041, no seu centenário, a Força Aérea terá muito o que comemorar, operacional e administrativamente. E nada seria possível se não fosse a determinação, o profissionalismo e a coragem de cada militar para enfrentar os novos desafios que se descortinam. Tais características, tão peculiares aos pilotos de caça, foram herdadas dos heróis brasileiros da campanha na Itália e sempre serão a base dos valores dessa gloriosa aviação.

2019, F-39 (Gripen NG), o futuro caça da Força Aérea Brasileira. (Imagem: Agência Força Aérea)

As experiências do 1º Grupo de Aviação de Caça, originadas em tempo de guerra e transmitidas por gerações de pilotos, influenciaram significativamente as formulações doutrinárias ora praticadas. O alto padrão de eficiência e eficácia, mantidos todos esses anos, demonstram que em cada componente desta aviação ainda vive o espírito heroico dos seus antecessores. Pioneiros que viveram intensas emoções e que fizeram a diferença no marcante dia 22 de abril de 1945.

 Fonte: http://tecnodefesa.com.br/

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