Desde que assumiu, em 2013, Xi Jinping tenta remodelar o modelo China, deslocando a matriz econômica das exportações e investimento em infraestrutura para o consumo interno. Também mexe em instituições-chave do país, inclusive expurgando altos membros do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, das Forças Armadas e de importantes estatais, alguns dos quais acabaram presos por suspeita de corrupção. Agora, o presidente chinês iniciou o que analistas veem como a mais arriscada reforma: a maior reestruturação desde os anos 1950 do Exército de Libertação Popular, o principal núcleo militar do país.
A ideia é transformar a estrutura
militar chinesa, baseada no modelo grandioso do Exército Vermelho
soviético e construída para defender as fronteiras do país contra
inimigos externos potenciais, numa força moderna e mais enxuta, com
capacidade de projetar o poder chinês para muito além de suas
fronteiras. O foco se desloca, assim, de uma lógica defensiva para
outra, expansiva. Segundo informou o “Wall Street Journal”, a reforma
será implementada até 2020. No entanto, certamente enfrentará
resistências internas e externas.
Se for efetivada, a mudança permitirá
que a China possa realizar operações militares em regiões distantes,
como o Oriente Médio e a África, rivalizando com outras grandes
potências, como EUA e Rússia, que, na gestão de Vladimir Putin, tem
atuado na guerra civil síria e no conflito na Ucrânia. O país, aliás,
recentemente ampliou a frota naval, com submarinos nucleares, gerando
mal-estar nos EUA.
Mas no caso chinês trata-se de uma
profunda mudança de paradigma para uma nação constituída culturalmente
por uma postura isolacionista desde, pelo menos, a Dinastia Ming, no
século XV. Embora Xi possa citar a contribuição que uma China mais
atuante internacionalmente poderá dar, por exemplo, na luta antiterror e
em iniciativas de ajuda humanitária, os impactos geopolíticos
potenciais são enormes. Sobretudo na Ásia e em rotas comerciais
marítimas, onde já se vislumbram a escalada de conflitos com os EUA no
Mar da China.
Além disso, a reestruturação das Forças
Armadas ocorre num momento em que a economia do país preocupa o mundo,
diante dos sinais de bolha financeira que começam a se acumular no
horizonte chinês. A combinação crise econômica e poder militar não
costuma dar boa rima.
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